Coisas feitas pelo coração.

18:30



“Foi como um relógio voltando seus ponteiros de uma maneira inquietante, essa parte da história pode até não fazer sentido pra algumas pessoas, pois durante aquela parte do tempo, eu estive normal, mas mal sabiam o que estava acontecendo por dentro, dentro de mim, as borboletas no estômago me incomodavam, é como se por durante todo aquele tempo, elas estivesse adormecidas e depois desse tempo todo, elas voltassem a voar. Poderia até parecer uma noite normal, como qualquer outra, mas somente quando eu o vi pela janela do carro que realmente voltou a fazer algum sentido, pra descer do carro e sentir o frio que senti não era normal, me senti estranha, e eu sabia porque, talvez seja porque tinha o visto, e por mais que minhas mão tentasse ficar normais, eu não sabia o que fazer com elas, se as encruzava ou se as colocava para trás, mesmo que maioria das pessoas não estivessem com frio, eu estava, e com isso concluí que não estava no meu estado normal, ele havia mudado muito, toda a feição, digo, porque sei que o jeito continuava o mesmo, os meus olhos estavam em outras direções, mas um deles estava lá, o observando, mesmo que disfarçadamente, eu não conseguia me conter. Do lado de fora já dava pra ouvir a música, músicas de bom gosto até, eu sabia a maioria de cor na minha cabeça, não queria cantar, queria parecer alguém normal, ainda mais que ele estava ali, tanto e tanto tempo que não o via, e minha mão estava me incomodando, o que fazer com elas? Droga. Já estava na hora de entrar, eu não queria que ele me visse, ou no mesmo momento queria, fui pro outro lado da fila, o lado oposto dele, mesmo que tivesse muitas pessoas eu somente estava com minha atenção voltada a ele, ao movimentos, com quem ele estava, sabia que algumas pessoas que estavam comigo conversavam, e eu somente dizia que sim, e concordava com a maioria do que falavam, não estava entendendo muito o que estavam dizendo, minha atenção somente se voltava ali, nele e o que jeito com que agia, a fila foi andando e eu sabia que ia dar pra ele entrar primeiro. Perfeito! Pelo menos eu iria esquecer um pouco a presença dele ali. Como se as coisas não fossem feitas pra serem entendidas, vi que várias pessoas da minha fila conseguiram entrar primeiro e minha fila acelerava, por um momento vi que ela já havia me notado ali. Porque, meu Deus? Eu não sabia o que fazer com minhas mãos, elas nunca estiveram tão deslocadas assim, e a fila andava e vi que entraríamos juntos, na mesma direção, eu queria entrar primeiro pra que isso não acontecer, mas algumas pessoas passaram na minha frente, como se já não bastasse, estávamos ali, lado a lado, aquele momento foi o momento em que ficamos mais perto durante tanto tempo, e o momento em que trocamos olhares, não sabia o que sentir, não sabia o que estava sentindo ou fazendo, por fim, ele passou a minha frente e seguiu enquanto meus amigos já estavam na frente e eu segui atrás dele, observando o quanto havia mudado, e ele sentou junto com os casais que estavam com ele, tive que notar que ele era o único sozinho em meio a três casais, não sei se queria por um momento ir ali e completar o casal faltoso com ele, mas sabia que não podia, sabia que não iria, eu sabia também que me conhecia e jamais iria fazer algo parecido, sentei na mesa que meus amigos sentaram, era o lado oposto do dele, e sentamos de costas um pro outro, de hora em outra, me via a procurar uma desculpa pra olhar pra trás, pra vê-lo, aproveitar aquela oportunidade que eu não tinha a tanto tempo, de vê-lo ali, já até tinha esquecido do nosso último assunto, mas aquele relógio voltava cada vez mais e eu podia me lembrar de todos os momentos em que estivemos juntos. A cronologia atual continuava seu ritmo, o tempo ia passando, e eu respondia às perguntas e tentava me encaixar nos assuntos que rolavam na minha mesa, eu não sabia direito do que falavam, somente sabia que de hora em outra, eu dava um jeito de olhar pra trás, não podia deixar ele ir embora sem antes olhá-lo mais uma vez, lembro-me que surgiu algum assunto e que eu começara a rir, a rir alto, a rir sem controle, aquela gargalhada não estava em mim, eu teria que parecer normal, o que eu estava fazendo? - Que droga isso em mim - Odiava esse meu jeito de não saber comportar frente à algumas pessoas, em especial, frente às pessoas em que preciso tentar parecer normal. De tempo em tempo, eu o via alí, sozinho em meio aos casais, meus pés queriam ir até lá, mas eu mesma me impedia, e o resto? A cronologia continuava em ritmo, as horas foram passando, o tempo corria na frente, entre um olhar e outro, chegou a hora de ir embora, sem ao menos vê-lo mais uma vez, ele continuava na mesa, meio que imóvel, somente respondendo aos que o acompanhavam, me vi um pouco nele, aquele jeito não mudava mesmo, desci as escadas e o vi pela última vez naquele dia, nos enamoramos por olhares mal percebidos, mas nenhum de nós saiu do lugar, provavelmente ele seguiu o caminho para casa assim como eu, e essa foi apenas uma das vezes em que isso vai acontecer, pois nos cruzamos nos lugares, sem ao menos perceber, e toda essa coisa vai ajudar a remoer o que passou, vai contribuir para aquela dúvida temida em nossos corações: O que teria acontecido se eu tivesse me movido? Ninguém sabe, e por minha parte, próprio orgulho talvez, vou continuar não sabendo.”
— natalia

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